APERTE O CINTO, FAZ BEM PARA O CORAÇÃO

Quase não se percebe, mas a barriga costuma aumentar aos poucos na fase adulta e é preciso avançar alguns furos no cinto. Algumas pessoas nem ligam; afinal, deve ser resultado da cervejinha do happy hour, somada com essa rotina de chegar a casa, assistir tevê, sem nenhum tipo de exercício, só as atividades corriqueiras – ou seja, sedentarismo puro.

E, de repente, o susto: não é apenas a barriguinha de cerveja, mas um cinturão de gordura que agora envolve o abdômen – e continua a crescer. Nem precisa que o cidadão seja obeso; talvez por isso mesmo não tenha dado importância para o crescimento. Brasileiro se preocupa mais com o peso – sempre de olho na balança – e esquece o resto. Enfim, faz parte da nossa cultura não dar a essa “barriguinha” a importância que merece. Às vezes, vira até motivo de piada.

É preciso esclarecer que essa cintura dilatada pode se transformar numa bomba-relógio em sua vida, pois aí se concentram sérias ameaças. A obesidade abdominal é um perigo e está relacionada a vários fatores de risco para o coração, como níveis de colesterol, resistência à insulina, diabete tipo 2, síndrome metabólica, hipertensão e trombose. Um caminho curto para o enfarte.

Pegue a fita métrica e confira: para os homens, o ideal é uma circunferência abdominal inferior a 94 cm. De 94 cm a 102 cm, encontra-se na zona de alerta. Acima, estado de atenção. As mulheres ocidentais devem ter essa circunferência abaixo de 88 centímetros e as orientais não podem passar de 80 cm. De todo modo, medidas além desses limites significam que o pavio está aceso – o que não se pode prever é o tempo que o organismo suportará a carga até explodir. Mas convém não arriscar e agendar logo uma consulta com seu médico. As medidas são recomendadas pela Organização Mundial da Saúde.

Essa gordura visceral, que mascara doenças metabólicas, é responsável por uma alta taxa de mortalidade entre os homens; enfim, um tipo de excesso de peso que favorece problemas cardíacos. Ela não se acumula apenas na parte inferior do abdômen – ataca as vísceras.

Até determinado nível, a gordura visceral cumpre a sua missão de proteger os órgãos do aparelho digestivo. O problema surge quando ultrapassa os limites e não se armazena apenas na região subcutânea, mas nos órgãos internos como fígado, intestino e estômago.

Apesar do nome, nem sempre a cerveja é a responsável por isso, se consumida de forma moderada. Influenciam mais fatores como má alimentação, comer fora de hora e alimentos gordurosos em excesso, esses maus hábitos da vida moderna. Além do cigarro, evidentemente.

Não faz muito tempo, a atenção estava voltada apenas para o IMC – o índice de massa corpórea. Comprovou-se que o perigo não se resume à obesidade, mas também aos magros e seus costumes pouco saudáveis.

A Síndrome Metabólica é definida por fatores clínicos, fisiopatológicos, bioquímicos e metabólicos; interligados, aumentam o risco de doenças ateroscleróticas cardiovasculares e DM2. Os médicos têm pelo menos três critérios confiáveis para fazer seu diagnóstico: da Organização Mundial de Saúde (OMS), da Third Report of the Nacional Cholesterol Education Program (NCEP – Adult Treatment Panel III) e da International Diabetes Federation (IDF).

Um estudo da Federação Mundial de Cardiologia revelou que 66% dos brasileiros se cuidam com base no peso, 6% calculam o IMC e apenas 1% dá importância à saliência anormal da barriga. Pior: nessa pesquisa, 58% dos médicos não reconheciam a importância da medida na prevenção de doenças cardíacas, 45% afirmaram jamais terem medido a circunferência da cintura dos pacientes e 59% confessaram: nunca foram informados sobre a relação entre a barriga e o coração.

A distribuição da gordura no corpo pode ser em forma de “pêra”, quando o acúmulo se dá ao longo do quadril, ou em forma de “maçã”, em que a gordura se concentra no abdômen. É nesse padrão que a pessoa atinge o nível de obesidade “andróide”, que pode causar a síndrome metabólica com maior freqüência.

E não adianta forçar os abdominais durante os exercícios, isso não seca a barriga e o resultado é quase nulo. Daí a importância de procurar um médico para o tratamento que, em geral, inclui exercícios aeróbicos (caminhadas, de preferência) e uma reeducação alimentar. Quando o paciente não apresenta resultados satisfatórios, pode haver a recomendação de cirurgia bariátrica. E nesse caso não será um procedimento voltado para a estética, mas à qualidade de vida.

O exercício abdominal serve para fortalecer a musculatura do abdômen, mas não faz a barriga sumir, pois esses músculos ficam abaixo da gordura. Para queimar gordura, o metabolismo pede abundância de oxigênio, o que ocorre com exercícios aeróbicos.

Lipoaspiração e abdominoplastia podem eliminar a gordura subcutânea (debaixo da pele); ajuda na parte estética, mas não chegam perto da gordura visceral, que é o grande risco cardíaco.

Por isso, dieta balanceada, exercícios aeróbios e séries localizadas, como a musculação, combatem o mal de forma mais eficaz. Deve-se consumir menos do que se gasta e ter balanço energético negativo para perder gordura.

Mais importante de tudo é viver bem, sem sobressaltos.

E o melhor remédio sempre será a prevenção.

 

(*) Américo Tângari Junior é especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira. Integra a equipe de Cardiologia no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. urcardiologia@ig.com.br

Aprenda a tratar e prevenir vasinhos e varizes neste verão

No verão, a preocupação com a estética é sempre maior. Além das indesejadas gordurinhas, o brasileiro tem se preocupado cada vez mais com as varizes. O problema já atinge cerca de 38% da população – dentro da qual 30% dos casos ocorrem entre homens (veja quadro). Caracterizada pelo aparecimento de veias tortuosas, bastante dilatadas e de coloração púrpuro-azulada, principalmente na região da panturrilha, as varizes podem comprometer a saúde e não são tão simples de serem tratadas. Outro incomodo nessa época do ano, principalmente entre as mulheres, são os vasinhos. Embora sejam inofensivos, eles aparecem em diferentes partes do corpo, além das pernas, e também podem prejudicar o visual. “Pelo método tradicional, era preciso realizar incisões na perna do paciente para retirar os vasos lesionados. Isso gera incomodo e muita dor no período pós-operatório. O tempo de recuperação também é longo. Leva, no mínimo, 15 dias”, esclarece o Dr. Gilberto Narchi, cirurgião vascular do Hospital do Coração (HCor).

Como alternativa ao método tradicional, o cirurgião vascular adota em seus pacientes no HCor uma técnica de tratamento de vasinhos e varizes baseada no uso de laser. O procedimento consiste em introduzir uma microfibra ótica da espessura de um fio de nylon na veia doente. Em seguida, dispara-se o laser, por meio dela, dentro do vaso lesionado, colabando-o totalmente. “Nesse tipo de cirurgia utilizamos também um ultrassom doppler intra-operatório. Com ele, podemos visualizar o que acontece durante o procedimento e controlar o raio que é disparado intravenosamente”, explica o médico.

Ao proporcionar uma recuperação mais rápida, essa técnica também permite que o paciente tenha alta no mesmo dia, retorne às atividades cotidianas dentro de 24 horas e pratique exercícios mais pesados depois de uma semana. A única recomendação é não tomar sol intenso no local da operação por cerca de 30 dias. “Atualmente, o HCor é um dos poucos hospitais do país que dispõem deste recurso. Ao oferecê-lo, permitimos que os nossos pacientes tratem problemas vasculares desse tipo com eficácia, sem ter que deixar de aproveitar o verão”, explica o cirurgião vascular. “Afinal, esse tipo de problema inibe as pessoas de usar roupas mais condizentes com a estação, como bermudas, biquínis ou shorts mais curtos”, considera.

Prevenção

De acordo com o Dr. Narchi, medidas simples, como evitar ficar em pé ou sentado na mesma posição por muito tempo, se alimentar de maneira saudável, praticar atividades físicas e evitar sobrepesos, minimizam bastante as chances de aparecimento de vasinhos e varizes (veja abaixo). “Embora não possamos determinar quando e em quem esses problemas podem aparecer, a simples difusão desses cuidados pode livrar muita gente de ter que lidar com eles no futuro”, diz o médico do HCor. “Isso é fundamental. Afinal, as varizes, por exemplo, já a 14ª causa de afastamento do trabalho e a 32ª de aposentadoria por invalidez no Brasil”, alerta.

Fatores de risco

Vasinhos e varizes costumam aparecer após os 20 anos de idade. Entre as hipóteses mais aceitas a respeito de seus fatores de risco está a teoria de que eles são causados por uma predisposição genética, associada a diferentes situações, como carregamento excessivo de peso, obesidade, gestação, muitas horas em pé ou sentado em longas viagens, por exemplo, anticoncepcionais e até o uso frequente de sapatos de salto alto. No entanto, ainda é impossível prevenir ambos os problemas totalmente. “Os vasinhos são capilares da pele que se dilatam sem explicação, assumindo tons avermelhados ou de roxo em diferentes locais do corpo, como rosto, colo, seios, abdômen, costas, pernas ou pés. Já as varizes são ocasionadas pelo mau funcionamento de válvulas dentro das veias que reconduzem o sangue dos membros inferiores ao coração (retorno venoso). Esse problema faz com que o sangue fique represado nas safenas, entre outros vasos das pernas, provocando deformações, inchaços, alterações na sensibilidade da pele, além da sensação de peso ao caminhar, queimação, cansaço e edemas ao redor do tornozelo”, diz o Dr. Narchi. “Vale lembrar que cerca de 45% das pessoas que operam varizes, costumam vê-las de volta em aproximadamente cinco anos. Por isso é muito importante aperfeiçoarmos, cada vez mais, o tratamento dessa  enfermidade”, avalia o médico do HCor.

Diminua o risco de ter vasinhos e varizes

  • Evite excesso de peso.
  • Adote uma alimentação equilibrada.
  • Consulte um médico antes de começar um tratamento com pílula anticoncepcional.
  • Evite passar o dia na mesma posição. Se não puder, ande, dê alguns passos. Isso ajudará a liberar e estimular a circulação sanguínea.
  • Tenha cuidado com exercícios como musculação ou aeróbica de alto impacto. Esse tipo de atividade provoca maior tensão nos vasos e, consequentemente, a sua dilatação.
  • Sempre que possível, deite-se e eleve as pernas para favorecer o retorno venoso, já que os pés ficarão mais altos que o coração.
  • Não fume. Além de ser prejudicial à saúde, o cigarro, combinado com outros hábitos não saudáveis, pode ocasionar entupimento ou obstrução das artérias.
  •         Para estimular a circulação sanguínea, use meias elásticas de compressão. Mas sempre sob orientação médica.
  • Jamais trate vasinhos e varizes sem o acompanhamento de um cirurgião vascular.

Cuidados de emergência

  •        Em caso de rompimento e sangramento das veias, por causa de varizes, fazer a compressao local e após cessar a hemorragia deve-se procurar um pronto atendimento.
Varizes em homens
No Brasil, cerca de 70% dos casos de varizes ocorrem entre as mulheres, porém os homens costumam ser vítimas das variações mais graves da doença. Por isso, o controle da propagação do problema em homens é outra importante frente de trabalho dos cirurgiões vasculares do HCor. “Assim como as mulheres, os homens podem desenvolver varizes mais finas, reticulares e tronculares. Este último tipo, porém, é o mais comuns entre eles”, diz o Dr. Narchi. “Por isso é fundamental conscientizá-los da gravidade do problema. Afinal, varizes desse tipo são muito perigosas, já que ficam ainda mais expostas e podem levar à flebite (inflamações nas paredes dos vasos) com bastante facilidade.”

De acordo com o médico, a maioria dos homens não dá a devida atenção ao problema por falta de informação. Segundo ele, muitos só vão procurar tratamento quando a doença chega a um estado crítico. E pior: quase todos jamais tomaram qualquer atitude preventiva em relação às varizes. “As causas do problema são as mesmas em homens e mulheres. Contudo, em alguns aspectos, eles podem correr riscos ainda maiores. Afinal, consomem muita gordura, costumam carregar mais peso, e, quando não carregam, têm um estilo de vida bastante sedentário”, explica o médico. “Por isso, é fundamental que possamos fornecer informações sobre varizes e combatê-las também entre a parcela masculina da população”, conclui.