Na última quarta-feira (4), um grupo de crianças esteve visitando uma estação do VLT Parangaba-Mucuripe, em Fortaleza. A ideia da operadora Metrofor é educar esses futuros usuários para que entendam como funciona o novo modo de transporte e sejam defensores do sistema de mobilidade. A proposta é excelente, especialmente se considerarmos o alto grau de vandalismo contra instalações de transporte coletivo, e não apenas no Brasil.
Recebemos, todos os dias, notícias tristes de depredações em estações, trens e ônibus que fazem o transporte coletivo urbano, praticamente em todas as cidades do país. Em sua maioria são ações encomendadas por organizações criminosas, mas há também as explosões espontâneas de simples trabalhadores revoltados com a má qualidade dos serviços de transportes oferecidos pelas operadoras. Cabe olhar com atenção o que está acontecendo com os sistemas de bicicletas compartilhadas em várias partes do mundo. Pensados para integrar e complementar o transporte de massa, são também alvos fáceis para os depredadores, seja em Paris, Nova York, Recife, Rio de Janeiro ou São Paulo. Na semana passada, um vídeo circulou pelas redes sociais mostrando a retirada de dezenas bicicletas lançadas no rio Yarra, em Melbourne, Austrália, a exemplo do que já ocorrera em Sidney e em cidades da China. O péssimo exemplo dever ser encarado como um alerta para as autoridades e empresas que atuam com bike sharing no Brasil.
Já nos anos 1950, eram comuns os quebra-quebras de ônibus e trens de subúrbio, em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Cansados de esperar sob sol ou chuva, atrasados para o trabalho, ou muitas vezes depois de um dia de batente, bastava uma fagulha para incendiar os ânimos. Seis décadas se passaram, mas as pessoas continuam a ser tratadas como simples peças da máquina de fazer dinheiro. Ou como sardinhas enlatadas, empurradas para dentro e cuspidas para fora de veículos com até onze pessoas por metro quadrado. Como preservar alguma dignidade quando se está submetido a esse vandalismo de Estado?
A propósito, nesta semana um dirigente do setor de ônibus de São Paulo nos enviou um artigo para defender esse modo de transporte das críticas crescentes em relação aos problemas ambientais por ele gerados para as cidades. Não há dúvida de que os milhares de ônibus em circulação devem ter prioridade sobre os milhões de automóveis e motocicletas que paralisam o trânsito todos os dias nas grandes capitais. Já defendemos isto em texto de Olímpio Álvares divulgado há duas semanas aqui no Mobilize.
Mas também é inegável que a frota de coletivos precisa ser melhorada para emitir menos gases, material particulado e ruído. O impacto urbano gerado pelos ônibus diesel é sentido sobretudo por quem vive, trabalha ou circula a pé ou de bicicleta nas vias por onde eles circulam. Importante lembrar: em São Paulo, a Lei 14.933 (Lei de Mudanças Climáticas, de 2009) previa essa modernização de toda a frota até 2018, prazo que aparentemente não será cumprido. Agora, um projeto de lei, o PL 300, pretende adiar por mais 20 anos a troca dos atuais motores diesel por motorizações elétricas ou com base em combustíveis renováveis. Será um retrocesso, sem dúvida, que pode perenizar a imagem negativa que persegue o transporte coletivo no Brasil.
É interessante lembrar que a implantação dos metrôs de São Paulo e do Rio de Janeiro, nos anos 1970, foi realizada sob um padrão de qualidade de serviços até então inédita nas cidades do país. Trens limpos e bem mantidos, estações impecáveis, horários precisos e funcionários muito bem treinados para a lida com o público garantiam uma resposta também positiva dos usuários. Ambos os sistemas perderam, infelizmente, parte de seu padrão de qualidade.
Transporte de qualidade é uma gentileza que gera inúmeras outras gentilezas urbanas. Cabe a todos cuidá-lo e cabe ao Estado fazê-lo melhor.