Em 1983, Francisco Neves, carioca e morador do bairro da Tijuca, descobriu que seu filho caçula de apenas dois anos, Marquinhos, estava com câncer. Após um longo tratamento e visitas a médicos para encontrar uma chance de cura, Francisco e sua esposa, Sonia Neves, foram informados de que o transplante de medula óssea que Marquinhos precisava só estava disponível nos Estados Unidos, no Memorial Hospital, em Nova York. Mas, havia uma barreira: a família não possuía os recursos necessários para a viagem, hospedagem e outros gastos para morar por algum tempo em outro país.
Foi quando o futebol, já muito presente na rotina da família Neves, revelou-se mais do que um esporte ou um hobby, mas uma esperança. Já era costume de Francisco levar os dois filhos para os jogos no Tijuca Tênis Clube, onde Marquinhos e Carlinhos disputavam o campeonato de dentes de leite. E nessa época, Chico, como é conhecido, percebeu que eles não estavam sozinhos. O grupo de amigos que foi formado no clube acompanhava de perto a trajetória da família para vencer a doença, e foi fundamental para arrecadar os custos da viagem, mesmo em 1989, uma época sem redes sociais e alternativas digitais. A saída era a arrecadação pelo telefone ou pelo boca-a-boca.
Em 1989, ano em que o time Vasco da Gama foi campeão brasileiro ao vencer o São Paulo em pleno Morumbi, Marquinhos escolhia entrar de mãos dadas com o goleiro Acácio. Ele era mascote do goleiro, e chegou a entrar em campo em alguns dos jogos realizados no Maracanã e em São Januário, no Rio de Janeiro. Enquanto a maior parte das crianças preferia jogadores como Mazinho, Bismark ou Bebeto. Uma conexão começou entre os dois, e o jogador até mesmo dedicou o título brasileiro ao menino durante uma entrevista ao vivo para a TV.
Os vascaínos organizaram também um jogo beneficente para Marquinhos, que juntou uma multidão no Grajaú Tênis Clube. Mesmo quem não torcia ou jogava pelo clube foi. Renato Gaúcho e Leonardo (do Flamengo), Maurício (do Botafogo) e o time inteiro do Vasco se engajaram e participaram da ação.
Uma nova história
Em novembro de 1989, aos 8 anos, Marquinhos conseguiu chegar a Nova York e realizou o tratamento. Infelizmente, o menino não resistiu, mas a sua história se mantém viva até hoje.
A história de como tudo isso aconteceu foi inusitada: em 1990, após retornar ao Brasil, Chico tornou-se voluntário do Inca. E durante o lançamento do McDia Feliz de 1991 na instituição, ele conheceu o presidente do McDonald’s e ousou a fazer uma pergunta para ele: “Por que não temos uma Casa Ronald McDonald no Brasil?” e a resposta do Peter foi ainda mais inesperada: “Você quer me ajudar a trazê-la para o país?”. O McDia Feliz daquele ano foi um sucesso, usando pela primeira vez o modelo de mobilização que havia sido da campanha SOS Marquinhos. O engajamento daquela turma foi o diferencial para que nos anos seguintes se pudesse realizar um sonho: uma Casa Ronald McDonald no Brasil.
E assim, em 24 de outubro de 1994 a primeira Casa Ronald McDonald foi inaugurada no Rio de Janeiro, no Maracanã. Com o crescimento do McDia Feliz e das demandas de instituições de oncologia pediátrica em todo o país nasceu o Instituto Ronald McDonald em 1999. Francisco foi convidado para estar à frente da Instituição. A história do Instituto começou com Marquinhos e o amor e união proporcionados pelo futebol.
Ao longo desses 20 anos, cerca de 400 mil atendimentos foram realizados em programas e projetos parceiros do Instituto, que tem a missão de promover saúde e qualidade de vida para crianças e adolescentes com câncer no país. Desde sua fundação, em 8 de abril de 1999, o Instituto Ronald McDonald – vencedor do prêmio de Melhor ONG em saúde e classificado entre as 100 melhores ONGs do Brasil de acordo com o Instituto Doar e a Revista Época – age nas principais necessidades no antes, durante e após o tratamento, por meio do desenvolvimento e da coordenação de programas como Diagnóstico Precoce, Atenção Integral, Espaço da Família Ronald McDonald e Casa Ronald McDonald.
“Há muitos desafios para que o câncer em crianças e adolescentes deixe ser a principal causa de morte destes jovens no país. É preciso identificar a doença, encaminhar adequadamente e nos estágios iniciais, fazer um diagnóstico preciso e garantir um tratamento adequado. Estamos caminhando para que cada um destes passos seja alcançado nos quatro cantos do Brasil. É importante dizer que sim, há cura. E principalmente, que cada um de nós pode ser um agente no combate à doença ao disseminar informações que ajudem a desmistificar a enfermidade e incentivar o tratamento e a cura. O câncer não é uma sentença de morte”, explica Francisco Neves.
Para os próximos dez anos, o desafio do Instituto é de aumentar as chances de cura no Brasil ao mesmo patamar de países com um alto IDH – índice de desenvolvimento humano. Atualmente, segundo o Inca, a chances de cura no Brasil são, em média, de 64%.
Sobre o Instituto Ronald McDonald
Organização sem fins lucrativos, o Instituto Ronald McDonald atua há 20 anos para aproximar famílias da cura do câncer infantojuvenil e aumentar as chances de cura da doença aos mesmos patamares dos países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Para atingir esse objetivo, o Instituto Ronald McDonald trabalha promovendo a estruturação de hospitais especializados, a hospedagem para famílias que residem longe dos hospitais, a capacita profissionais de saúde para realizarem o diagnóstico precoce, incentiva a adesão a protocolos clínicos e promove disseminação de conhecimento sobre a causa. A ONG faz parte do sistema beneficente global Ronald McDonald House Charities (RMHC), presente em mais de 60 países, coordenando os programas globais: Casa Ronald McDonald, voltado para a hospedagem, transporte e alimentação dos pacientes; e o Programa Espaço da Família Ronald McDonald, que torna menos desgastante o dia a dia das famílias durante o tratamento. No Brasil, há ainda outros dois programas locais: Atenção Integral e Diagnóstico Precoce, com ações específicas de combate ao câncer infanto-juvenil. O Instituto conta com o apoio de diversas empresas e pessoas físicas para desenvolver e manter seus programas. Saiba mais sobre as fontes de arrecadação, os programas e as instituições beneficiadas em www.institutoronald.org.br.