De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ainda é o país mais afetado pelo vírus Zika. Esse atual cenário afeta diretamente os números de casos da síndrome de Guillain-Barré, uma doença universal que já acomete 34 países com uma incidência de 1 a 4 casos por 100.000 habitantes.
Trata-se de uma síndrome aguda, provavelmente de origem autoimune, classificada dentro do grupo das doenças que afetam o sistema nervoso. Segundo o neurocirurgião pediátrico Sérgio Cavalheiro, do Hospital e Maternidade Santa Joana, a síndrome causa um processo inflamatório que altera a condução do estímulo nervoso ocasionando fraquezas e paralisias. “A maior manifestação clínica é a fraqueza, tanto nos braços como nas pernas, iniciando nos membros inferiores. Os músculos intercostais, do tronco, do pescoço também são acometidos, porém mais tardiamente. Esses sintomas ocorrem em um terço dos pacientes, gerando um grande desconforto muscular”, explica o especialista.
A doença atinge pessoas de ambos os sexos e todas as idades, além dos antecedentes de infecções bacterianas ou virais do trato respiratório e gastrointestinal que estão entre os 60 a 70% dos casos, como alerta o Dr. Sérgio. “Vários vírus estão sendo implicados como causadores da Síndrome de Guillain-Barré, tais como Epstein Barr, Citomegalovírus, HTLV-1, Vírus da imunodeficiência humana. Além disso, o aumento do número de casos no país em indivíduos infectados pelo Zika vírus nos fez analisar a forte associação entre a síndrome e o vírus”.
De acordo com o médico, o diagnóstico é clínico e conta com alguns exames complementares como o exame do líquido cefalorraquidiano e a eletroneuromiografia. “A análise do líquido cefalorraquidiano demonstra elevação importante da proteína com número de células normais ou próximo do normal, já que o aumento máximo de proteínas no líquido cefalorraquidiano acontece após quatro a seis semanas do início dos sintomas da doença. Já a eletroneuromiografia – estudo dos nervos periféricos e músculos – apresenta dados da condução nervosa”, explica o neurocirurgião.
Geralmente, 90% dos pacientes apresentam uma excelente evolução com melhora clínica em até 18 meses após o início da doença. Em apenas 2% dos casos, a fraqueza pode evoluir para total paralisia levando o paciente ao óbito por falência respiratória em alguns dias. Nesses casos, a necessidade de suporte ventilatório e a ausência de melhora funcional três semanas após a doença ter atingido o pico máximo são sinais da evolução grave da síndrome de Guillain-Barré. A evolução clínica da doença nas crianças ocorre de forma diferente se comparada com os adultos, pois a recuperação é mais rápida e completa nesta faixa etária.
Segundo o médico, a síndrome de Guillain-Barré não tem uma cura específica, porém alguns tratamentos se mostraram eficazes na recuperação do paciente. “Hoje temos dois tipos de tratamento, a plasmaferese e o uso de altas doses de imunoglobulinas. Na primeira, retira-se grande quantidade de plasma do paciente, e com isso se diminui a ação autoimune da doença que agride a mielina. O tratamento endovenoso com altas doses de imunoglobulinas também pode ser utilizado e costuma apresentar os melhores resultados, pois apresenta respostas mais rápidas com menos complicações, sem restrições de idade”.
Além disso, o tratamento de suporte também é essencial para os pacientes, pois na falência respiratória o indivíduo precisa ser tratado em unidades de terapia intensiva e respiração mecânica. É recomendado um acompanhamento de fisioterapia para estimular a movimentação passiva das articulações durante todo o período de recuperação para evitar deformidades.