Existem poucos centros de saúde no Brasil capacitados para fazer cirurgias intrauterinas. No Distrito Federal, a Maternidade Brasília é o único da rede privada com equipe apta para esse tipo de procedimento e tem se destacado por sua eficiência.
“O que determina o sucesso de um centro avançado de medicina fetal é a equipe. É necessária uma equipe multidisciplinar muito bem montada, com médicos altamente especializados “, explica Evaldo Trajano, do Centro de Referência em Medicina Fetal da Maternidade Brasília.
Há poucos dias, uma intervenção desse tipo salvou a vida de um bebê. Era uma gestação gemelar. A mãe, de 37 anos, tem um histórico bastante delicado, com duas gravidezes anteriores interrompidas naturalmente por malformação fetal.
Exames de ultrassom diagnosticaram a síndrome da transfusão feto-fetal no início do segundo trimestre. Os dois fetos estavam conectados por uma única placenta. A complicação, que ocorre entre dez e quinze por cento das gestações gemelares monocorióticas, faz com que um bebê passe o sangue para o outro, mas o sangue não consegue retornar. Assim, um se desenvolve e o outro não.
No caso específico, mesmo para o bebê que recebia nutrientes suficientes, o líquido amniótico era excessivo. O risco de morte fetal, nesses casos, é superior a 90%. Mesmo quando a gestação chega a termo, metade das crianças que sobrevivem apresenta algum dano neurológico.
A intervenção cirúrgica era urgente para garantir que a gestação chegasse a termo. O procedimento permitiu a correção do sistema circulatório que “abastecia” os bebês.
A equipe avaliou o risco. Sem a intervenção, a gestação, que já estava com 23 semanas, não chegaria a bom termo. “Todo procedimento implica riscos, e o que avaliamos, neste caso, é que, sem o procedimento, os bebês não teriam chance de sobrevivência”, explica o doutor Trajano.
Depois da cirurgia, a gestante segue em acompanhamento até o parto, que deve ocorrer entre a 32ª e a 34ª gestação.
As cirurgias fetais são essenciais para a correção de diversos problemas, como hérnia diafragmática, algumas patologias toráxicas e do aparelho urinário. Sua principal proposta é evitar o risco de óbito ou melhorar a vida extrauterina.