Especialista alerta sobre o perigo de utilizar indiscriminadamente suplementos alimentares, como a melatonina

A Anvisa liberou no dia 14 de outubro, a venda de melatonina como suplemento alimentar. A partir desta decisão, não é mais necessário ter prescrição médica para adquirir o fármaco. Conhecida como “hormônio do sono”, a substância tem a função de promover o relaxamento e auxiliar na modulação do ciclo sono-vigília, popularmente conhecido como “relógio biológico”, que nos faz dormir e descansar à noite, para sermos produtivos em nossas atividades durante o dia.

Naturalmente, a melatonina é liberada no cérebro pela glândula pineal quando a intensidade de luz natural diminui com o anoitecer. Já ao amanhecer, à medida em que a luminosidade do dia aumenta, sua produção diminui para despertarmos. Dessa forma, a produção deficiente de melatonina pode desregular o ciclo circadiano, levando a problemas do sono.

Teoricamente, a versão sintética pode funcionar nessas situações, repondo a melatonina em baixa. Trabalhadores noturnos, que precisam dormir durante o dia, pessoas que viajam muito e enfrentam diferenças de fuso-horário com frequência ou idosos, que podem naturalmente produzir menor quantidade de melatonina, são exemplos de casos que podem se beneficiar da suplementação com a versão sintética, para manterem um sono restaurador.

Entretanto, o consumo inadequado dessa versão pode levar ao excesso e causar efeitos colaterais inconvenientes, como sonolência excessiva, cefaleia, náusea, tontura, irritabilidade e desconforto abdominal.

Por isso, embora a ANVISA tenha liberado o uso da melatonina como suplemento alimentar e não como medicamento, ou seja, não com a finalidade de tratar, prevenir ou curar doenças, mas sim para repor substâncias bioativas em complemento à alimentação, o seu uso não deve ser indiscriminado, porque pode acarretar malefícios à saúde. Pessoas com problemas de sono devem, em primeiro lugar, procurar ajuda médica.

*Gustavo Protti é neurologista, especialista em doenças cerebrovasculares e docente do curso de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi. É mestre em Ciências da Saúde pela Santa Casa de São Paulo.

Por Gustavo Protti*