“Essa estabilização do dólar é temporária. A queda deve continuar nos próximos meses e acelerar assim que medidas econômicas concretas forem efetivadas”
Durante a eleição o mercado financeiro passou a aceitar Jair Bolsonaro como o único candidato com chances reais de vitória e que teria a possibilidade de realizar as reformas e reaquecer a economia. Os números comprovaram esta aceitação. Com o candidato de direta liderando as pesquisas, no mês outubro o dólar caiu mais de 8%.
Foi a maior queda em dois anos. O Ibovespa subiu mais de 10% no mesmo período. Segundo estudo da Nova Futura Investimentos, que analisou os 30 dias antes das últimas eleições desde 2002, este ano foi o melhor de todos para o mercado financeiro, do ponto de vista de queda da moeda americana e valorização das ações.
Entretanto, após a vitória de Bolsonaro o dólar começou a subir e já acumula alta de 1% em novembro. Se o novo governo indica que fará corte de gastos, priorizará as reformas e o Ministro da Economia está alinhado com o mercado financeiro, por que a moeda americana não caiu desde o fim das eleições?
Veja abaixo o comentário dos especialistas:
“O mercado sempre precifica antes de o fato acontecer e já era dada como certa a vitória de Bolsonaro. Por isso agora existe um ajuste de preços. Se o candidato do PT ganhasse teríamos a moeda americana próxima de R$ 4,80. Entretanto, essa estabilização do dólar é temporária. A queda deve continuar nos próximos meses e acelerar assim que medidas econômicas concretas forem efetivadas”, ressalta Pedro Paulo Silveira, Economista-Chefe da Nova Futura Investimentos.
“O dólar entre R$ 3,65 e R$ 3,70 é exatamente a cotação esperada para o momento pós-eleição. O mercado ainda está na expectativa em relação a reforma da previdência. Bolsonaro já declarou que a reforma da previdência não poderia ser feita com pressa e isso causou desconfiança dos investidores. Quando temos um fato muito concreto, como a prisão do Lula, por exemplo, a bolsa e a moeda americana se ajustam antes do acontecimento”, conta Fernando Bergallo, Diretor de Câmbio da FB Capital.
“Nossa economia está conectada ao mundo, principalmente os grandes mercados. Fatores externos, como as eleições legislativas americanas estão causando instabilidade. O dólar só terá uma queda mais expressiva quando as ações efetivas do presidente eleito realmente se concretizarem. A reforma da previdência será um divisor de águas”, diz Daniela Casabona, Assessora Financeira da FB Wealth.
“A discreta alta do Dólar frente o Real nos últimos dias, mesmo após o desfecho favorável das eleições brasileiras (com a vitória do candidato reformista), deve-se principalmente ao cenário internacional. A economia dos EUA, em especial, está em ritmo acelerado (PIB crescendo em 3,5% ao ano e taxa de desemprego no menor patamar dos últimos 50 anos), fazendo com que a taxa básica de juros (Fed funds) aumente. Isto fortalece também a moeda norte-americana frente as demais divisas globais. Além disso, o Real também sofre conforme a economia da China desaquece pois isto tende a reduzir as nossas exportações e depreciar nossos termos de troca. O PIB da China desacelerou para 6,5% ao ano no último trimestre, frustrando as expectativas (6,6%) e deve seguir nesta tendência nos próximos trimestres”, explica Daniel Xavier, Economista-Chefe da DMI Group.