Mitos e verdades sobre a eficiência de produtos na desinfecção nos ambientes
Lançadas no mercado como soluções que eliminam o coronavírus, diversas novidades não têm eficácia comprovada, não são regulamentadas pela Anvisa e ainda são nocivas à saúde. Mas, quais métodos e produtos realmente funcionam contra a Covid-19?
A pandemia do novo coronavírus levou a outro patamar os cuidados com os hábitos de higiene da população. Medidas sanitárias rígidas que eram seguidas apenas por hospitais e indústrias (farmacêuticas e alimentícias), como a desinfecção de ambientes e superfícies, agora, são recomendadas por órgãos de saúde para diversos setores. Mas, quais são as soluções realmente eficazes e mais adequadas no combate à Covid-19?
Muitas tecnologias e substâncias, tidas como inovações, têm sido utilizadas e prometem eliminar efetivamente o coronavírus, bactérias e demais microorganismos. No entanto, alguns podem causar sérios problemas de saúde.
“O mais importante é termos uma solução que, além de ser inovadora, seja eficaz. Existem soluções que podem ser aplicadas de forma condicionada nos ambientes e superfícies que têm mínimo, baixo, ou pouquíssimo impacto ao ser humano, aos animais e ao meio ambiente e são efetivos na morte do coronavírus”, diz Ivam Cavalcante Pereira Jr., Diretor Executivo da DeVant Care, empresa especializada em soluções automatizadas de biodesinfecção de ambientes e superfícies que trouxe ao Brasil a tecnologia Nocotech, inovador sistema de difusão por vapor seco que distribui as soluções biodesinfetantes no ambiente, sendo efetiva contra o coronavírus e aprovada pela Anvisa. Há 20 anos atuando no mercado hospitalar, Ivam Cavalcante afirma que a desinfecção é um processo e não apenas um fim direto e que é preciso atentar-se à eficiência dos produtos e à forma como o procedimento é realizado.
“Hipoclorito de sódio, soluções cloradas, ozônio e compostos de quaternário de amônia não foram avaliadas por meio de normativa com relação a sua eficácia, eficiência e segurança para usuários, tanto para quem aplica ou para os consumidores”, afirma.
Soluções eliminam vírus, mas são nocivas à saúde
Segundo Ivam, com um bom marketing, há substâncias que já existiam no mercado e que vêm se reembalando para aproveitar o desafio da crise sanitária e a busca por soluções. “Não são inovações, mas reinvenções, e muitas sem laudos comprobatórios, causando ainda reações insatisfatórias em pessoas mais suscetíveis”, diz.
O hipoclorito de sódio, por exemplo, muito utilizado em residências – o cloro que se compra em mercados é uma solução de hipoclorito de sódio – obtida por meio da reação do cloro com solução diluída de soda cáustica. Suas recomendações, no entanto são específicas acerca da Covid-19. “O forte odor residual e seu vapor em suspensão são extremamente irritantes às mucosas do trato respiratório. Em contato com a pele, causa dermatite e queimadura”, avalia Ivam, ressaltando que o produto reage mal à matéria orgânica, podendo gerar substâncias carcinogênicas.
Já o uso de ozônio para desinfecção de ambientes não tem sua eficácia comprovada em inativar vírus. A exposição ao ozônio por meio das vias aéreas pode trazer problemas aos pulmões, produzindo redução da função ventilatória. Evidências científicas mostram que em concentrações que não excedem os padrões de saúde pública, o ozônio tem pouco potencial para remover contaminantes do ar.
A luz UV-C é um sistema que elimina microorganismos por meio da utilização de lâmpadas especiais que geram radiação UV-C. Embora a radiação por meio da luz UV-C elimine micro-organismos, a Anvisa não recomenda o uso de equipamentos com essa tecnologia para desinfecção de ambientes públicos e hospitalares como única alternativa e tampouco há eficácia no uso de radiação UV contra Covid-19. “Há um limite de alcance das lâmpadas UV-C, que atuam por proximidade. Portanto, dificilmente, partículas suspensas serão afetadas por este método. Além disso, a UV-C é incapaz de alcançar locais com sombras, debaixo de mesas e cadeiras, por exemplo”, destaca Ivam.
Compostos de quaternário de amônia, comercializados como soluções de pronto uso, são utilizados amplamente em diversas indústrias. É comumente encontrado em amaciante de roupas e em diversos outros desinfetantes de uso geral e hospitalar. Estudos indicam que estes compostos causam a resistência de microorganismos, além de terem resultado na infertilidade de camundongos. “Estes compostos deixam resíduos, criando a falsa sensação de que o local terá longa ação desinfetante, além das superfícies úmidas favorecerem a proliferação de microorganismos”, afirma. A Anvisa também alerta sua ação reduzida em microbactérias, vírus envelopados e esporos e fraca atividade microbactericida.
Produto X aplicação
Não é o produto apenas que deve ser validado. Ele também deve ter eficácia para a eliminação do vírus e demais microorganismos por meio daquela aplicação, seja por vaporizadores, pulverizadores, spray, borrifador, entre outros.
Vaporizadores e pulverizadores, normalmente utilizados na aplicação de inseticidas e pesticidas, vêm ganhando destaque em diferentes áreas por conta da pandemia. Mas sua difusão, úmida, com alto consumo de solução e em que sempre é necessária uma pessoa durante o processo, não garante o padrão de sua aplicação. “Na aplicação manual, a maior preocupação é com as superfícies de contato, como por exemplo, mesas e cadeiras, e nenhuma preocupação com paredes, tetos, vidros e locais de difícil acesso”, alerta Ivam Cavalcante. “A distribuição da solução é inconsistente em diversos ambientes, além de sistemas descalibrados que são utilizados para outros fins, que não a desinfecção. Apesar da técnica ser interessante do ponto de vista prático, é extremamente dependente de quem aplica e não cria padronização. Além disso, superfícies úmidas propiciam o crescimento de microorganismos”.
A maioria das soluções usadas em vaporizadores ou pulverizadores requer diluição. Os riscos vão desde a correta diluição, quanto tempo antes da aplicação a solução deve ser preparada, recipientes utilizados para aplicação da solução diluída, qual a estabilidade, eficiência e eficácia pós-diluição e custos de contratações de pessoas, materiais, espaços e a água utilizada no processo. “A aplicação de sanitizantes ou desinfetantes por meio destes dispositivos não tem validação normativa, nem eficiência comprovada. Além disso, não há ficha técnica ou instrução ou recomendação de utilização”, completa Cavalcante.
E o que realmente funciona?
Após a OMS reconhecer a transmissão aérea do coronavírus, constatando que gotículas respiratórias produzem aerossóis que contêm vírus em quantidade suficiente para causar infecção, diretrizes sanitárias foram atualizadas e os cuidados redobraram. As partículas suspensas também caem e se depositam nas superfícies, provocando a exposição ao vírus, podendo sobreviver por algumas horas ou até dias ali.
“Está comprovado que a Covid-19 pode ser transmitida através de aerossóis e ambientes com maior quantidade de partículas suspensas tornam-se mais propensos à transmissão da Covid-19 e de outros microorganismos, como os próprios vírus da gripe. É importante que os processos de desinfecção levem também em conta a eliminação do vírus pelo ar, que sejam adequados e com eficácia comprovada”, diz Ivam Cavalcante.
A combinação do peróxido de hidrogênio e prata é uma solução inovadora para combater o coronavírus nos ambientes e superfícies. O peróxido de hidrogênio elimina vírus, bactérias, fungos leveduras e esporos e é utilizado há pelo menos 20 anos no tratamento de águas e esgotos e de efluentes industriais em países desenvolvidos.
Sua utilização pode aprimorar a remoção da matéria orgânica e de micro-organismos. A solução também não traz problemas com odor ou irritação e não contém conservantes, sendo uma boa opção para pessoas com alergias ou com sensibilidade a conservantes.
Além disso, procedimentos realizados de forma automatizada não dependem de uma pessoa para a difusão do produto, proporcionando desinfecção de forma padronizada; traz também o benefício de contar com uma série de laudos de validação por meio de normativa que garantem a eficiência e consistência na aplicação. “Uma das soluções é tratar o ambiente e suas superfícies com visão 360º, ou seja, não apenas aquilo que se vê, mas também, aquilo que não se vê (o ar, por exemplo) e os locais de difícil acesso onde não alcançamos e onde todos acreditam que nada possa se esconder, como o coronavírus”, diz Ivam.
Ele também destaca os benefícios da vaporização a seco, que não deixa resíduos úmidos no ambiente, auxiliando no não retorno e crescimento dos microorganismos.