da Agência Brasil –

A saída de Tite do comando da seleção brasileira, após a Copa do Mundo no Catar, era certa. Conversamos sobre isso há mais de um mês no programa No Mundo da Bola, que apresento na TV Brasil ao lado do Marcio Guedes e do Luiz Ademar. E não era necessário ser um profeta, bastava pensar. Tite está no cargo há dois ciclos de Copas, foi o único mantido na função após uma derrota. Se perder no Catar, não será mantido. Já se vencer, qual seria seu novo desafio? Correria o risco de sair em baixa, como ocorreu com Felipão e Parreira? Era evidente que sairia. Ele apenas oficializou, e antecipou, o que todos esperávamos.

E ele está certo, porque aqui no Brasil não existe essa tendência de longos trabalhos, menos ainda que envolvam outros personagens envolvidos. E no caso da seleção, os personagens a que me refiro são os clubes pelo país. E os técnicos desses clubes, nos times principais e no futebol de base.

Assunto antigo, não é? Mas que se faz necessário quando pensamos em quem substituirá Tite no comando da seleção. Vamos por partes. Você está satisfeito com o futebol que nosso time apresenta? Está confiante numa boa participação na Copa? Vou tomar a liberdade de responder: não e não para a maioria.

Só que, no meu entendimento, Tite não é o único culpado por isso. A cada dois meses ele se reúne por uma semana com os jogadores, que nem sempre são os mesmos. Pedimos tempo para os técnicos dos clubes, um mês de trabalho para avaliar, mas quando é a seleção queremos resultado imediato. Além disso, sejamos sinceros, não temos craques na seleção como há alguns anos. E isso equilibra todas as partidas com as demais, que no passado tinham futebol inferior ao nosso.

Porém, essas partidas ficam desequilibradas quando lembramos que nossos jogadores estão espalhados pelo mundo, atuando em sistemas de jogos bem distintos, alguns até fora das funções que Tite imagina para eles na seleção. Com condicionamentos físicos distintos e muito mais. E aí eu pergunto: com todos esses fatores, trazer um técnico estrangeiro será suficiente para corrigir nossos problemas?

Com certeza não. O que precisamos é de uma ampla mudança de mentalidade, estrutura e investimentos. E de novo um assunto antigo, pois em 2014, quando perdemos de 7 para a Alemanha, o sucesso da Nationalmannschaft (seleção alemã) foi amplamente explicado por aqui. Mas de nada serviu.

É verdade que na Copa de 2018 a Alemanha viveu seu maior vexame, sendo eliminada na primeira fase. Mas o trabalho seguiu. Vamos lembrar um pouco. Em 2014 o sucesso com o quarto título mundial veio após vexame na Eurocopa de 2000. Um alto investimento foi feito por lá, com os clubes sendo obrigados a terem divisões de base, trabalhando em conjunto com a federação nacional. Sendo acompanhados por treinadores e professores graduados, que buscavam formar os jogadores com teoria, técnica e tática, mas também com escolas e cursos até o ensino médio. Houve uma coordenação nacional, troca de informações, competições de futebol de base e um entendimento de que todos cresceriam, gerando frutos para a seleção. O título na Copa do Mundo realizada no Brasil foi o resultado.

E nós, o que fizemos? Para início de conversa, nem uma liga de clubes nós temos. Alguns clubes não se dão com a CBF, temos duas entidades de classe que representam os treinadores, e que não se dão entre si, vemos nos times que vão disputar o Brasileirão da série A oito técnicos estrangeiros. Que unidade existe por aqui?

É evidente que o Brasil pode ter sucesso maior que a Alemanha lá no Catar. Mas também me parece que, de novo, eles vão com mais confiança para a Copa. E tomo por base as últimas convocações para os jogos pelas Eliminatórias.

Do time brasileiro que venceu o Paraguai, quatro jogadores estiveram na Copa da Rússia, em 2018: Ederson, Marquinhos, Thiago Silva e Coutinho (Neymar estava contundido). A média de idade foi de 28 anos entre os 11 titulares (com Neymar, em tese no lugar de Vini Jr., subiria para 28,8). Do time alemão que venceu a Armênia dois foram campeões do mundo em 2014: Ginter e Müller. E outros dois estiveram na Copa da Rússia. Porém, na lista de convocados outros dois jogaram a Copa de 2014 e mais nove viveram a experiência de um Mundial, em 2018. E, acredite, a média de idade dos 11 titulares foi de 26,8 anos, inferior à nossa.

Ou seja, oito anos depois, nosso time é mais velho que o alemão e com menos experiência em Copas do Mundo. Se você ainda acha que um técnico estrangeiro vai resolver essa equação, eu respeito. Mas, como diz o ditado popular, o buraco é mais embaixo.

* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.

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