Maior captação de ar externo, fluxo projetado de maneira correta e filtros de alta eficiência são algumas das medidas essenciais para evitar a disseminação de vírus e bactérias
Na cidade de São Paulo, os shoppings foram reabertos no dia 11 de junho – com restrições de horário e nos serviços. A preocupação com a transmissão do novo coronavírus permanece e, se tratando de ambientes fechados, o tratamento do ar interno se torna totalmente essencial. Em protocolo divulgado pela Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), um dos itens chama a atenção para a troca dos filtros do ar-condicionado. No entanto, este é apenas um dos cuidados que devem ser tomados, de acordo com Rafael Dutra, engenheiro mecânico da Trane, empresa líder em climatização e refrigeração de ambientes
“Neste momento, diversas medidas para garantir a qualidade do ar interno dos shoppings devem ser tomadas. A começar pela operação contínua do ar-condicionado, que deve ser mantido ligado até mesmo quando o local estiver fechado. Quanto mais tempo os equipamentos com renovação de ar ficarem ligados, menor a concentração de vírus no ar. Essa medida também evita a proliferação de fungos que podem afetar também os produtos”, alerta.
Rafael também afirma que os pontos de captação de ar externo e exaustão dos ambientes precisam ser corretamente avaliados por um engenheiro projetista de ar-condicionado. A intenção é ajustar o sistema para aumentar a captação de ar externo. Dessa forma, ocorre maior renovação do ar interior.
“O ajuste de maior captação de ar exterior é recomendado na situação em que estamos, mesmo que isso signifique gastos mais altos com energia. O sistema será mais exigido, porém, a circulação de ar renovado poderá reduzir a concentração do vírus nos ambientes, e esse é o principal objetivo do momento”, comenta Dutra.
Outro ponto importante destacado pelo engenheiro é o caminho que o ar interno percorre. Para o fluxo ser correto e o sistema ter eficiência, um projetista capacitado precisa avaliar a difusão de ar nos ambientes de modo que o fluxo do ar seja no sentido limpo-para-contaminado. Em qualquer configuração, é fundamental o embasamento em normas regulatórias e nas mais recentes recomendações divulgadas pela ASHRAE e ANVISA.
Com o intuito de alcançar maior eficiência no combate aos vírus e bactérias, filtros de alta eficiência podem ser implementados apesar da implementação exigir muito do sistema, devido a pressão adicional exigida dos ventiladores. Tecnologias como filtros fotocatalíticos e lâmpadas UV podem ser aplicadas como complemento pois estes têm apresentado boa performance no combate de certos tipos de vírus.
Para fazer a manutenção, o técnico deve estar totalmente protegido – com Face Shield, luvas e roupa adequada. Existe alto risco de contato com o vírus no momento da troca dos filtros. Em tempos de pandemia, o monitoramento e manutenção do sistema deve ser feito com maior frequência, adaptando para a nova realidade.
Ajuste de temperatura e umidade
Variações de temperatura e umidade, ou mesmo manter esses parâmetros dentro de valores altos demais ou baixos demais para uma determinada ocupação pode ser prejudicial à saúde dos ocupantes. Existem evidencias suficientes de que ambientes com umidade fora da faixa dos 40% a 60% provocam redução da capacidade de resposta imunológica dos indivíduos. Como em todo sistema de ar condicionado não há uma temperatura pré-estabelecida única para qualquer tipo de ambientes.
O projetista deve levar em consideração a ocupação e a atividade do local. Por exemplo, em academias, o ar não pode ser tão frio, já que as pessoas usam pouca roupa e fazem atividade física. Nos shoppings, no entanto, as pessoas vão com mais vestimenta e a passeio. Também há de se levar em conta a temperatura do clima local. Tudo isso exige uma capacidade de controle de temperatura de forma dinâmica, exigindo que o sistema de controle do sistema de ar condicionado seja capaz de se adaptar e manter a temperatura dentro de um parâmetro definido.
Além da capacidade de controle de temperatura, é recomendável a capacidade de controle de umidade relativa. Este tipo de controle não costuma ser comum em sistemas de climatização de conforme para ambientes comerciais, porém, como citado anteriormente, este tipo de controle é benéfico tanto à capacidade de resposta imunológica dos indivíduos como para a qualidade do ar interno em termos de proliferação de fungos. Para tal, é necessária a interação com um consultor que possa indicar as modificações necessárias no sistema de controles do ar condicionado.