Segundo o Instituto Brasileiro de Fluência, a gagueira afeta 10 milhões de pessoas no Brasil, um número maior que a população da cidade do Rio de Janeiro
Início precoce
A gagueira costuma aparecer na infância, entre dois e cinco anos. “Os pais geralmente percebem que a criança está com algum problema para falar, porque ela perde a desenvoltura que já possuía. A criança estava se desenvolvendo bem e, de repente, os pais percebem que ela repete várias vezes a sílaba inicial das palavras ou que ela faz força para falar e não sai nenhum som”, explica a especialista.
Como a gagueira ocorre na fala espontânea, nas conversas do dia a dia e na leitura em voz alta, os pais podem ficar confusos e atribuir a uma causa emocional, como ansiedade e timidez, porém isso é um mito. O que é verdade, embora possa parecer estranho, é que em situações como cantar ou até mesmo fazer uma peça de teatro, a gagueira costuma desaparecer.
Sandra explica que isso acontece porque o cérebro não controla os dois tipos de fala da mesma maneira. “A fala espontânea e natural é controlada por uma rota cerebral chamada de pré-motora medial, enquanto modos não-espontâneos de fala, como o canto, são controlados por outra rota cerebral, a pré-motora lateral”.
De onde vem a gagueira?
A gagueira tem várias causas. Uma delas já está comprovada e é genética. “Já foram identificados quatro genes relacionados à gagueira. Esses quatro genes respondem por cerca de 15% dos casos. Ou seja, ainda há muitos outros genes para serem descobertos. Filhos de pais que têm ou tiveram gagueira têm mais chances de gaguejar. A probabilidade aumenta se a criança for do sexo masculino, porque 80% dos casos de gagueira envolvem o sexo masculino”, explica Sandra.
Além da genética, a gagueira pode ocorrer devido a lesões cerebrais, acidente vascular cerebral, traumatismos cranioencefálicos, intercorrências na gravidez, parto e pós-parto, entre outras condições que afetam o funcionamento e a fisiologia do cérebro.
O fator social também é um componente importante na origem da gagueira. Crianças que vivem em um ambiente familiar em que as pessoas falam muito rápido ou usam uma linguagem muito complexa podem ter mais probabilidade de desenvolver a gagueira, desde que exista a predisposição genética.
Diagnóstico
“O diagnóstico é feito pelo fonoaudiólogo especialista em fluência por meio da gravação e análise da fala da criança. Não é um diagnóstico subjetivo. Por exemplo, em um trecho de 300 palavras de fala espontânea, o fonoaudiólogo irá verificar quantas vezes a criança repetiu, prolongou ou bloqueou sílabas. E também se ela apresentou sinais de esforço para falar algumas sílabas”, explica Sandra.
Gagueira tem cura?
De acordo com a especialista, sim. Mas, para a cura é preciso que o diagnóstico e o tratamento sejam feitos ainda na infância. Além disso, a cura da gagueira também está associada às condições gerais de saúde da criança: distúrbios de sono, distúrbios de respiração e epilepsias, por exemplo, reduzem as chances de cura da gagueira.
“Estima-se que 5% da população é afetada pela gagueira durante o desenvolvimento da fala. Porém, apenas 1% irá apresentar a doença na forma crônica, ou seja, na fase adulta. A gagueira, portanto, tende a ser uma condição tipicamente infantil. Quando tratada pode ser curada”, comenta Sandra.
O tratamento fonoaudiológico é baseado em exercícios para respiração, voz e articulação da fala. Também são realizados exercícios específicos para fluência, envolvendo leitura em voz alta e fala espontânea. No caso de adultos, o treino de fala em público é muito importante. O fonoaudiólogo também avalia se são necessários tratamentos complementares.
Desempenho Escolar e Gagueira
A especialista chama a atenção sobre o desempenho escolar de crianças que apresentam a gagueira. “A criança pode ter dificuldades para responder a chamada, para ler em voz alta, para esclarecer suas dúvidas e para apresentar trabalhos na sala de aula. Crianças com gagueira também estão mais sujeitas a ridicularizações dos colegas por sua forma de falar. Então, se os pais de uma criança com gagueira começam a perceber que ela não quer mais ir para a escola, isso pode ser um sinal de que está havendo bullying e devem procurar a escola para uma conversa”, diz Sandra.
Como vimos, a gagueira não tem graça, tem tratamento. Ela pode trazer enorme sofrimento e prejuízos sociais, assim como escolares se não tratada. Se você desconfia que seu filho está gaguejando, procure um fonoaudiólogo especialista em gagueira.