Como o Centre Pompidou, em Paris, inspirou um dos tênis mais famosos da história

Museu de arte contemporânea francês foi criticado por sua estranheza arquitetônica na década de 1970, mas seu estilo se tornou aclamado no mundo quando a Nike o usou como modelo para um dos tênis mais famosos da história

Quando o Centre Pompidou abriu suas portas no bairro do Marais, em Paris, em 1977, muitos estranharam seu design arquitetônico radical. Os arquitetos responsáveis, Renzo Piano e Richard Rogers, tentaram criar uma estrutura “do avesso”: de um lado, qualidades utilitárias, como saídas de vento e cabos elétricos que ficam expostos na fachada. Do outro, de dentro, um prédio que a casa de uma série de exposições de arte contemporânea.

O Centre Pompidou logo foi aclamado e mudou a percepção da indústria arquitetônica como um todo. Um dos primeiros a olhar para o edifício parisiense com olhos encantados foi Tinker Hatfield, engenheiro da Nike que creditou ao museu francês a grande inspiração para o Air Max 1, que deu início a um dos modelos mais famosos da fabricante estadunidense (o último lançamento foi o Air Max 97).

Em setembro do ano passado, a Nike prestou uma homenagem ao Centre Pompidou com um pacote especial do Air Max 1: uma linha limitada em que o fundo branco do tênis é preenchido com tubos coloridos nas laterais que lembram a fachada do museu — chamada de Pompidou Day.

O museu e o tênis

Em 1987, a Nike colocou no mercado o tênis Air Max, que chamou a atenção do mercado dos Estados Unidos pelo seu design inovador e que, com com isso, elevou a imagem da marca quando ela mais precisava. A história dele, no entanto, começou cinco anos antes, em uma viagem que um projetista da empresa fez a Paris, em 1981.

Tinker Hatfield chegou à Nike como arquiteto com a missão de projetar os prédios do campus de Oregon, nos Estados Unidos. No entanto, com a continuação do emprego, ele se aventurou a projetar modelos de calçados e, com a simpatia dos seus chefes, se tornou membro do departamento de design.

“Comecei a trabalhar em um conjunto renegado da linha de produção que não eram parte dos produtos principais”, explicou ele em uma entrevista em 2017 ao jornal Washington Post. Já dona de 50% do mercado nacional de calçados esportivos, a Nike entrou em 1980 com expectativa de se tornar uma empresa do seleto grupo de US$ 1 bilhão. Para manter a posição, no entanto, era preciso inovar.

Foi quando Hatfield fez uma viagem a Paris, na França, e se interessou pelo Centre Pompidou, que completava uma década de existência. “Eu lembro de ser muito influenciado por aquele prédio e de ter meu senso arquitetônico colocado de cabeça para baixo”, contou ele no documentário Respect the Architects. No mesmo filme, ele disse que, se não tivesse visto o prédio, jamais teria sugerido à Nike colocar uma bolsa de ar abaixo de um tênis.

“Eu pensei: ‘Por que não deixar a bolsa de ar um pouco à mostra, garantindo sua estabilidade, mas removendo a parte da meia-sola que impede de vê-la?”, explicou.

A tecnologia sugerida por ele não era nova: ela fora desenvolvida originalmente pelo engenheiro Frank Rudy, da NASA, e já equipava um calçado da Nike, o Air Tailwind, lançado em 1978. O modelo havia substituído as tradicionais solas moldadas com bolsas de uretano cheias de gás. No entanto, era um consenso que, como tecnologia de performance, as bolsas deveriam ser sentidas, não vistas. Foi nisso que Hatfield revolucionou.

O primeiro tênis fabricado com a ideia de Hatfield, o Air Max 1, foi lançado em março de 1987 e apareceu no comercial de TV da Nike naquele mesmo ano. A propaganda tinha como tema a música Revolution, dos Beatles. Foi a primeira vez que uma canção do grupo de rock britânico foi usada em um comercial de televisão na história.

Era parte da linha Air Pack, que também tinha o Air Trainer 1, o Air Sock, o Air Revolution e o Air Safari. “Eu estava no aeroporto no exato momento em que o primeiro Air Max foi lançado. Estava ao telefone quando alguém apareceu usando um par. Eu olhei para ele da cabine telefônica e disse: ‘Alguém comprou o tênis!'”, conta David Forland, diretor de Inovação da Nike à época. “Era um grande risco, mas uma recompensa maior”, finaliza.