Uma energia fervorosa, uma vida noturna densa, uma cultura que se mistura ao caos, uma cidade perfeita para escrever um romance policial”. É assim que o escritor britânico Joe Thomas definiu São Paulo, cidade que se tornou a sua em 2007, e a qual se diz apaixonado. “Essa megalópole faz Londres parecer uma vila”.

Segundo ele, desde a sua chegada, no aeroporto de Guarulhos, ele já notou que a principal metrópole brasileira lhe sugaria pelo tamanho. “O ar é mais pesado, o cheiro do rio é forte, o calor é mais intenso. Se você pega um voo no aeroporto doméstico, fica tão perto dos prédios que quase pode ver as pessoas nas janelas”, disse.

Para, Thomas, a metrópole brasileira é como o centro do mundo: não é bonita, tem taxas de criminalidade e de trânsito enormes e o cotidiano é pesado, mas tem uma vida tão intensa que faz os moradores se sentirem mais vigorosos, politizados e importantes. Foi por isso que ele comprou uma passagem para São Paulo há mais de uma década, onde escreveu seu primeiro romance, Paradise City (2016, sem tradução para o português).

Apesar desse caos, Thomas contou que gosta dos lugares quietos da metrópole — e que há muitos deles. O Parque Ibirapuera, por exemplo, mas também dois museus que, segundo ele, Londres não tem: o Museu de Arte Moderna (adjacente ao parque por uma ponte de pedestres), na zona sul, cujo prédio foi desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, e o Museu Afro Brasil, que conta a história da escravidão brasileira. 

Ele também aconselha os visitantes a conhecerem a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, no Morumbi, na zona sul. “É a residência de uma família de colecionadores de arte e de objetos naturais e históricos rodeada por uma vegetação densa e bonita — quando você entra vindo da rua o ar fica impressionantemente mais gostoso de uma hora para outra”, afirmou. 

Oscar Americano, engenheiro e empresário do ramo civil, criou a fundação em 1974, dois anos depois da morte de sua esposa, a filantropa Maria Luisa, e meses antes dele mesmo falecer. Na casa, é possível visitar um acervo constituído por pinturas desde o século XVII, mobiliário, prataria, porcelana, tapeçaria e arte sacra do século XVIII.

Thomas diz que São Paulo conseguiu reunir experiências urbanas muito díspares em espaços contíguos, como a Sala São Paulo e a Pinacoteca do Estado, na região central, que convivem ao lado do “inferno na Terra” em uma das partes mais bonitas da metrópole: a Cracolândia, onde viciados em crack convivem a maior parte do tempo vigiados por guardas da prefeitura. 

O escritor britânico também contou que tem um bar preferido: o The View Bar, no 30º andar de um edifício no bairro dos Jardins, perto da Avenida Paulista. “É a melhor região para ficar, com uma grande quantidade de bares e restaurantes”, aconselha. Thomas também sugere o Skye Bar, no terraço do Hotel Unique, no Jardim Paulista, na zona sul — cuja grande atração é a piscina que, durante às noites, fica iluminada.

Paradise City foi escrito depois que Thomas conheceu a favela de Paraisópolis, também na zona sul paulistana, por meio de um episódio que lhe chamou a atenção: os ataques da facção criminosa PCC nas ruas da cidade, em junho de 2006. Na narrativa do escritor, tudo começou quando membros presos do PCC ouviram um sonoro “não” do governo ao pedido de instalar televisões nas celas para que eles pudessem ver os jogos da competição. 

“São Paulo é um grande cenário para ficção policial por causa do imenso abismo entre os ricos e pobres — de forma que há uma classe social miserável e um senso de falta de leis. Paraisópolis é um lugar rico em cultura, mas pobre economicamente e ainda prejudicado pela falta de políticas. Um livro sobre crime permite acessos a esses mundos distintos”, argumentou.

“O detetive do meu livro está constantemente comendo pastel”, completou, com a necessidade de explicar aos britânicos o que significa a iguaria brasileira. Apesar disso, o personagem não gosta da famosa caipirinha: ele prefere chope. “O melhor jeito de terminar uma noite é indo em uma padaria que vende cerveja, compartilhar uma bebida e ouvir os estranhos falarem até o dia amanhecer”, finalizou.