A Síndrome de Burnout tem sido uma preocupação cada vez mais frequente em termos de saúde mental relacionada ao trabalho. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a Síndrome de Burnout na lista da 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que passará a vigorar em janeiro de 2022, como um “fenômeno ocupacional”.
Apesar de ainda não ser considerada uma doença tal qual a depressão, ao inserir o Burnout na lista da CID-11 caracterizando como “problema associado ao emprego ou desemprego”, a OMS dá maior visibilidade a esse mal, reconhecendo o trabalho como um fator que influencia o estado de saúde do indivíduo.
Veja abaixo o texto que descreve a Síndrome de Burnout na nova Classificação Internacional de Doenças:
O esgotamento é uma síndrome conceituada como resultado do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. É caracterizada por três dimensões: 1) sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia ; 2) aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho; e 3) eficácia profissional reduzida. O esgotamento refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida. (QD85 Burn-out )
Ou seja, a Síndrome de Burnout é uma condição de estafa mental estritamente ligada ao estresse , seja ele provocado pelo ambiente laboral ou em razão dele. Porém, as dimensões apontadas na descrição dão margem para diversos sintomas que apontam para o problema.
Veja, neste artigo, como a busca por equilíbrio e autoconhecimento é fundamental para evitar que o esgotamento profissional atrapalhe seu desempenho na carreira. Entenda de que forma as empresas podem contribuir para formar uma barreira contra o estresse no trabalho e cuidar com carinho do seu ativo mais precioso: o colaborador.
Burnout: prevenir é melhor que remediar!
Ficar cansado depois de uma semana intensa de trabalho é completamente normal. Assim também é com o estresse causado pela rotina atribulada e problemas rotineiros com os quais todos temos de lidar. No entanto, ignorar por completo essas sensações pode ser perigoso.
Dar atenção aos sinais da mente e do corpo, principalmente quando todo o cansaço e estresse parecem piorar no ambiente de trabalho, é fundamental para evitar que um problema ainda maior – como é o caso do Burnout – se instale.
Atenção aos sinais de alerta!
Repare como seu corpo reage ao chegar e ao sair do seu local de trabalho. Dores de cabeça , taquicardia, respiração mais ofegante… esses são alguns sinais físicos que podem apontar um nível de estafa que precisa ser controlado.
Perceba que esses sentimentos e sensações não significam que sua saúde mental já esteja totalmente comprometida. Muitas vezes, isso pode pode estar relacionado com outras questões, e esse é mais um motivo para observar suas reações em diferentes momentos e lugares.
O desânimo para cumprir as tarefas, a falta de concentração e foco ou aquela vontade de desligar o despertador pela manhã e “matar o serviço” são fortes indícios de que algo não vai bem.
Por isso, não ignore as reações do seu corpo e ouça sua “voz interior”. Ela irá apontar o caminho e dar os primeiros sinais de que é preciso desacelerar .
Cuidados com a saúde mental dentro e fora da empresa
Há um fator comum entre pessoas que já conviveram com a Síndrome de Burnout: a maioria delas, por muito tempo, se esqueceu que existe vida além do trabalho.
Para profissionais das mais diferentes áreas, com destaque para os empreendedores, ser workaholic é uma condição vital. Existem pessoas que respiram trabalho 24/7 e são extremamente felizes assim.
Contudo, fundir todos os aspectos da vida – pessoal, social e laboral – pode ser altamente nocivo. Há, inclusive, o risco da perda de identidade que, para algumas pessoas, pode causar uma crise existencial e consequente baixa autoestima .
A partir daí, ao invés de o trabalho ser benéfico e edificante, como se espera que seja, acaba causando um forte sentimento de insatisfação. Não é à toa que, dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros, cerca de 32% são atingidos pela Síndrome de Burnout, conforme aponta a International Stress Management Association . Ainda mais assustador, 70% da população economicamente ativa já apresenta os primeiros sinais da doença.
É possível dizer que separar cada área da vida tende a ser mais saudável, desde que se busque equilibrar as funções de cada uma. Porém, para evitar o esgotamento profissional, não necessariamente é preciso trabalhar menos ou deixar de trabalhar.
A necessidade é de que o trabalho seja realizado com qualidade e respeito aos próprios limites. Para isso, é importante canalizar a energia empregada nas funções laborais para diversos pontos, formando, assim, uma barreira contra o estresse dentro e fora do local de trabalho.
A importância de uma agenda pessoal
Os empreendedores fazem parte do grupo mais afetado pelo estresse crônico, resultando no Burnout. Mesmo os founders mais brilhantes, inteligentes, dedicados e engajados não passam de seres humanos.
É humanamente impossível dar 120-130% de si durante um extenuante período de tempo. O filósofo belga Pascal Chabot chegou a definir o Burnout como a “doença da civilização”.
Como empreendedora, por muitas vezes, ultrapassei o limite de horas trabalhadas. Nos primeiros anos da Vittude , trabalhei 24/7, sem finais de semana e feriados. Em diversas ocasiões deixei de lado os amigos , família , momentos de lazer e até mesmo os relacionamentos amorosos.
Nem sempre percebemos que estamos exagerando ou passando dos limites. Quando estava no mundo corporativo cansei de observar colegas indo muito além do esperado em busca de promoções, expatriações e bônus agressivos. Porém, no final do dia, quem paga essa conta é o nosso corpo, nossa saúde física e mental .
Uma das coisas que aprendi nessa jornada foi a importância e atenção que devemos dar para uma agenda pessoal. É fato que no papel de empreendedora e CEO não conseguirei evitar o estresse, a pressão, a complexidade das decisões e o prazo curto para resolução de problemas.
No entanto, também é certo que cabe a mim a responsabilidade pelo autocuidado . Sou a única responsável por organizar as minhas 24 horas diárias de forma a assegurar que as tarefas mais importantes sejam priorizadas.
Nesse sentido, tenho em mente que algumas atividades são fundamentais para o meu equilíbrio emocional e saúde. Entre elas listo algumas:
1. Praticar atividade física com regularidade
Se nos primeiros anos abri mão de tudo para me dedicar à construção da empresa, nos últimos meses observei que viver sem a corrida, meu esporte favorito, custava um preço alto. Não ter o esporte em minha rotina comprometia minha sensação de felicidade .
Para conseguir encaixar de volta a atividade física no meu dia a dia optei por readequar os horários. Passei a treinar pela manhã. Atualmente criei uma rotina onde durmo mais cedo e acordo às 5:30 da manhã todos os dias.
Costumo ir ao parque Ibirapuera pelo menos três vezes por semana e nos demais dias cumprir uma rotina matinal suave, onde levanto com calma, tomo um banho demorado, levo meu cachorro para passear e preparo meu café da manhã com alimentos saudáveis.
2. Manter uma higiene do sono
Não posso deixar de citar o caso da famosa empresária Arianna Huffington, fundadora do site de notícias The Huffington Post. Em 2007, Arianna teve um desmaio, em casa, que ocasionou a quebra do seu maxilar. Após ser submetida a uma bateria de exames clínicos, descobriu que estava diante de um quadro de Burnout, após um longo período de privação do sono .
Das minhas 24 horas diárias, pelo menos 7 são destinadas ao sono, sim ou sim. Essa é uma regra entre meus hábitos. Com as horas de sono eu não brinco, ou o resultado será muito pior para minha saúde e também para a empresa.
Quando falo em higiene do sono, refiro-me a uma quantidade de pequenas práticas que permitem que o sono seja restaurador e eficiente para que o organismo se recupere. Entre elas cito alguns:
• evitar o consumo de cafeína após determinado horário do dia;
• controlar o consumo de bebidas alcoólicas;
• evitar alimentos muito pesados, ricos em gorduras ou muito processados após as 20h (eles podem causar má digestão e comprometer o sono);
• ter uma rotina relaxante e regular para dormir (eu costumo levar um livro para cama);
• evitar a exposição às luzes brilhantes de aparelhos eletrônicos meia hora antes de deitar.
3. Meditar
A meditação é uma atividade que auxilia na redução do hormônio do estresse em nosso organismo. Essa é uma das práticas mais recentes no meu cotidiano, veio depois de conhecer alguns psicólogos da Vittude que trabalham com a prática.
Meditar ajuda não somente a evitar o Burnout, como a ampliar o foco e atenção no momento presente, contribuindo para diminuir a ansiedade . É uma atividade que consome pouquíssimo tempo, mas que traz benefícios gigantescos. Normalmente utilizo o app Simple Habit, de meditação guiada e recentemente recebi a indicação do Insight Timer.
4. Não desmarcar compromissos com amigos e família
Entenda que ter momentos de lazer e convívio social é importante para manter a sanidade mental. Somos seres sociais, precisamos desfrutar da companhia de pessoas queridas para manter a vida equilibrada.
Quando estamos atribulados é comum desmarcarmos aquele barzinho com os amigos, o aniversário em família ou até mesmo deixar o date para outro momento. No entanto, sempre que deixamos essas atividades de lado comprometemos nossa capacidade de ter contato com o novo e sermos mais criativos também.
Além disso, quando o tempo passa, pode bater aquele arrependimento e a auto cobrança pode ser mais um ofensor para o estresse diário.
5. Cuidar com o uso excessivo do smartphone
Uma das estratégias que passei a adotar esse ano foi monitorar o tempo gasto no celular. Mensuro o uso pelo screen time e tento diariamente me policiar para não utilizar em demasia redes sociais , whatsapp e outros apps.
Junto com o hábito de dormir mais cedo, passei a seguir a dica de uma amiga e colocar um despertador às 21:30. Esse é o horário em que devo desligar qualquer dispositivo eletrônico, seja ele notebook, televisão ou smartphone.
Para finalizar, procuro não deixar o aparelho próximo da cama ou ao alcance das mãos ao deitar. O objetivo é justamente evitar que a primeira ação do dia seja justamente checar as redes sociais. Esse check das redes, que aparentemente parece inofensivo, por si só, é capaz de gerar ansiedade e até mesmo causar depressão .
Muitas pessoas hiperconectadas sofrem a idealização de um mundo que, na maioria das vezes, não é real. Vivem desejando a viagem que o colega posta no instagram ou os objetos comprados por algum amigo próximo.
Essa comparação diária pode levar também ao Burnout, uma vez que acaba desencadeando um “desejo” pela vida do outro, fazendo com que o indivíduo trabalhe ainda mais para cumprir metas , receber bônus ou ser promovido mais rapidamente.
Ambiente de trabalho mais saudável
Se há uma série de recursos para promover a saúde mental fora do ambiente de trabalho, nele também precisamos estabelecer algumas rotinas para preservar nosso equilíbrio emocional .
Afinal, o Burnout é produto desse ambiente quando deixamos de estabelecer limites, para nós e para as pessoas à nossa volta. A seguir, uma lista de ações para tornar o local de trabalho menos estressante:
• procure estabelecer limites nas relações dentro da empresa, para que a amizade não seja usada como desculpa para que lhe transfiram mais trabalho e responsabilidade do que você pode assumir;
• sempre que possível, evite ler emails e mensagens do trabalho fora do expediente, incluindo seu horário de almoço e intervalos;
• crie relacionamentos baseados em confiança e honestidade, inclusive com a chefia;
• se você é um gestor ou CEO, aprenda a delegar funções para as pessoas certas, assim é possível descentralizar o trabalho e diminuir a carga de tarefas;
• não abra mão das férias: esse é um período fundamental para “recarregar as baterias”.
Lidando com o Burnout: como tratar o problema?
Há algo quase catártico na legitimação do esgotamento, já que o mundo da medicina alcança uma condição onipresente que moldou nossas vidas por muito tempo – especialmente para os jovens.
Como Anne Helen Petersen escreveu em um artigo viral do BuzzFeed no início deste ano, “Burnout, seus comportamentos e o peso que o acompanham não são, de fato, algo que possamos curar saindo de férias”.
De fato, folgas semanais e férias anuais, embora sejam importantes e bem-vindas, são insuficientes para quem já lida com o Burnout.
Todavia, mesmo parecendo algo extremamente difícil de transpor – uma vez que o trabalho é inerente ao ser humano e não se pode simplesmente abandonar o emprego ou cargo – esse esgotamento pode ser tratado, devolvendo à pessoa sua produtividade .
Inclusive, ao buscar ajuda e tratamento para os males causados pelo Burnout, pode-se desenvolver e potencializar habilidades profissionais e também pessoais.
Praticar o autoconhecimento através da psicoterapia ajuda a lidar com as emoções e contornar os problemas. No entanto, muitas vezes é preciso ir além e buscar ajuda médica de um psiquiatra para tratar os sintomas físicos. Desse modo, o uso de antidepressivos não está descartado para tratar um quadro de Síndrome de Burnout.
Porém, além da medicação e da psicoterapia, outras terapias alternativas como a acupuntura , por exemplo, podem contribuir bastante para diminuir a tensão e a estafa mental causados pelo problema.
Mas como identificar o problema? Vejamos os principais sinais da presença do Burnout:
• exaustão mental e física
• irritabilidade e impaciência
• falta de concentração
• dificuldade para dormir
• queda no desempenho das atividades
• pouca interação nos relacionamentos
• sentimento permanente de insatisfação
• falta de motivação e interesse em atividades do dia a dia
• ausência no trabalho sem necessidade aparente
Se você se identifica nessas condições e sintomas, é importante buscar ajuda médica e psicológica o quanto antes, para evitar ainda mais prejuízos – físicos, mentais e profissionais. Conversar com seu chefe ou responsável pelo setor de Recursos Humanos da empresa também é indispensável.
Ou ainda, se conhece alguém que está passando pelo problema, procure conversar e alertar para a importância de buscar ajuda profissional, oferecendo apoio e compreensão.
Contribuição das empresas no cuidado com a saúde mental
Cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho deve ser uma via de mão dupla, até porque, tanto funcionários quanto chefes estão sujeitos ao esgotamento profissional.
Num país onde 38% das licenças de trabalho são ocasionadas por distúrbios psíquicos e onde cerca de 200 mil pessoas foram afastadas de suas atividades laborais por problemas de saúde mental no ano de 2017, fechar os olhos para essa questão significa estar disposto a perder muitos talentos e, principalmente, muito dinheiro.
Cientes disso, cada vez mais as empresas têm desenvolvido atividades para o bem-estar dos colaboradores, incluindo o investimento nos cuidados com a saúde mental da equipe. Esse, aliás, é um investimento importante e com retorno certo: o da produtividade.
Ao criar uma cultura de feedback também é possível dar o primeiro grande passo no desenvolvimento de um ambiente mais cooperativo e saudável para a equipe.
A Vittude tem formado grandes parcerias na implementação da psicoterapia como benefício aos colaboradores de várias empresas com o programa Vittude Corporate .
Através do subsídio de sessões de atendimento psicológico online , entre outras atividades realizadas dentro da própria empresa, como programas de Mindfulness e mapeamento da saúde mental do time, é possível melhorar o clima organizacional, tornando os colaboradores mais motivados.
O resultado pode ser rapidamente percebido com a redução do absenteísmo e o aumento da produtividade, ampliando a vantagem competitiva da empresa.