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Estudo da Universidade Federal do Pará (UFPA) identificou a ocorrência de doenças metabólicas crônicas – hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2 – em grupos indígenas da região do Xingu e de Marabá, no Pará. Das seis comunidades analisadas, duas apresentaram casos de doenças.
O coordenador da pesquisa, o médico e doutor em Ciências Biológicas João Guerreiro, relacionou os males crônicos não apenas a predisposições genéticas, mas a mudanças na alimentação e no estilo de vida das comunidades. O estudo tem previsão de publicação na revista Genetics and Molecular Biology, na quarta-feira (11).
“Essas alterações que estudamos – sobrepeso, obesidade, hipertensão arterial, diabetes e dislipidemias – incluímos como doenças genéticas complexas, em que existe um forte componente genético predispondo a ocorrência dessas alterações, mas associado a isso tem que ter um componente ambiental que favoreça”, explicou.
Para ele, mesmo com a predisposição genética, é preciso que se adquira hábitos e costumes que favoreçam a expressão desses genes. “Então, mudanças de comportamento e de padrões de alimentação certamente são responsáveis por essa transição epidemiológica que a gente está observando em algumas populações indígenas. O fato de terem se tornado mais sedentários, com menos atividades físicas, também contribui para o aparecimento dessas doenças”, explicou.
Mudança de hábitos
O pesquisador citou a incorporação de hábitos alimentares com ingestão de muito carboidrato e alimentos processados, além daqueles ricos em açúcar e gordura, como refrigerantes e bolachas, na dieta indígena.
Ele ressalta que, até recentemente, se considerava como risco de mortalidade indígena basicamente doenças infecciosas, incluindo as respiratórias e diarreicas. Agora começam a aparecer as doenças crônicas não transmissíveis – sobrepeso, obesidade, hipertensão, diabetes. “E, se nada for feito para tentar conter essa expansão, se não for feito nenhum trabalho para tentar mudar hábitos alimentares e comportamentos, isso tende a piorar”, alertou.
O que pode se tornar um problema de saúde pública entre as populações indígenas precisaria de ações para conter a expansão dos fatores de risco para essas doenças. Guerreiro avalia que a solução passa por ações de educação em saúde no sentido de mudanças de hábitos, principalmente direcionadas a crianças.
Além disso, o pesquisador considera importante a continuidade dos estudos, tanto para acompanhar a evolução dessas doenças nas comunidades indígenas, como para identificar a predisposição genética dos grupos.
“A gente acredita, e tem quase certeza, que há uma base genética também que predispõe algumas etnias a desenvolver essas doenças e outras não. De um total de seis [comunidades] que estudamos, todas elas submetidas a uma mesma pressão de contato, [em] duas a gente observou alterações nutricionais, nas outras, não. Então, provavelmente há diferenças genéticas, biológicas”, explicou.
O estudo de campo foi realizado em aldeias de comunidades indígenas da região do rio Xingu, em Altamira, e na Terra Indígena Mãe Maria, em Bom Jesus do Tocantins, no Pará, entre 2007 e 2014. Foram analisados 628 indígenas dos grupos Arara, Araweté, Asurini do Xingu, Parakanã, Xikrin do Bacajá e Gavião Kyikatêjê.
Agência Brasil –