Empreendedores desenvolveram equipamento portátil e de baixo custo capaz de filtrar 5.000 litros de água contaminada por dia

O Brasil detém 12% de toda água mundial, mas, ainda assim, 35 milhões de pessoas no país não têm acesso à água potável, de acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. Ainda nesse caminho, a Unicef levantou que 14,3% das crianças e dos adolescentes não têm acesso à água no Brasil, o que prejudica diretamente o desenvolvimento e aprendizado escolar.

A estatística sensibilizou empreendedores que, em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra – UPS), investiram em uma solução prática, eficiente, inovadora, e, sobretudo, econômica, para mudar essa realidade tão preocupante. Assim surgiu a PWTech, startup brasileira criada em 2019 e que desenvolveu um equipamento portátil capaz de transformar 5.000 litros de água contaminada da chuva e de rios, poços, represas, açudes e lagos em água potável por dia. O PW5660 pesa apenas 12 quilos e uma unidade consegue abastecer até 100 pessoas — considerando que cada uma consumiria 50 litros por dia –, de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O sócio-fundador da startup, Fernando Silva, conta que o objetivo é atender, especialmente, comunidades carentes. “É fato que no Brasil há sérios problemas de saneamento que perduram há séculos. Mas, a falta de acesso à água de qualidade afeta não só a saúde da população mais pobre, como também gera problemas sociais”, afirma. “Por exemplo, há registros de 15% de evasão escolar no Brasil por conta disso. Fizemos um mapeamento que apontou que, só no Estado de São Paulo, 952 unidades de ensino não fornecem água tratada, refletindo diretamente na saúde de milhares de crianças e adolescentes”, revela.

Com o foco em responsabilidade social, a PWTech entende seu papel perante a sociedade e desenvolve projetos baseados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU). O Projeto Nascente, por exemplo, teve como finalidade garantir saneamento básico aos moradores da Ilha do Bororé, localizada às margens da represa Billings, em São Paulo (SP). Sem abastecimento de água potável, a comunidade consumia água proveniente de poços instalados nas residências, sem qualquer tipo de tratamento prévio.

Em 2021, o mecanismo foi utilizado, também, no Haiti e auxiliou cerca de 150 mil pessoas que foram afetadas pelo terremoto de 7.2 na escala Richter que ocorreu no dia 18 de agosto. “Oferecemos 32 equipamentos que foram levados por meio de uma missão humanitária do Ministério das Relações Exteriores”, conta Fernando.

A empresa também busca prevenir, combater e mitigar impactos negativos do homem na natureza. Neste ano, por exemplo, ganhou a licitação da ONU, por meio da UNOPs do Brasil, para atender desastres naturais como incêndios florestais e terremotos. “Agora, atuamos com o Ibama e ICMBio. Eles têm grupos de brigadistas que vão para dentro da mata, onde só havia água de mananciais para consumir e trabalhar. Por ser um equipamento simples e portátil, o PW5660 resolveu esse problema das equipes, que ficam muito tempo em regiões remotas e de difícil acesso”, explica a cofundadora da PWTech e engenheira química, Maria Helena Cursino.

Com o diferencial de ser portátil, de fácil manuseio, baixo custo e alto patamar de vazão, a startup busca, agora, ampliar sua área de atuação para segmentos de pequena e média escala, como o da construção civil e da pecuária, e, assim, almeja alcançar, em 2022, o faturamento de R$ 3 milhões. “Ainda há muito mercado para ser explorado e estamos abrindo oportunidades em canteiros de obras e indústrias para aproveitamento de chuva. Hoje, a nossa maior atuação é com órgãos governamentais e instituições voltadas para o coletivo”, finaliza a empreendedora.