Bastante utilizada pelos brasileiros em décadas passadas e num período em que havia menos pessoas com acesso à conta corrente e poupança no país, as compras no crediário ainda fazem parte do cotidiano de uma parcela considerável da população. Um estudo realizado em todas as capitais pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal de educação financeira ‘Meu Bolso Feliz’ mostra que dois em cada dez consumidores (19%) possuem, atualmente, ao menos uma compra cujo pagamento é feito por meio de boleto ou carnê. A modalidade fica atrás do cartão de crédito, que é usado por 52% do total de consumidores entrevistados.

Crediário
Crediário

Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, “o crediário é para uma parte da população brasileira, sobretudo entre a classe C não bancarizada e os que vivem fora dos grandes centros urbanos, a única via para conseguir realizar compras de valores mais elevados”.

Os produtos mais adquiridos com o crediário, de acordo com o levantamento, são eletrodomésticos (44%), eletrônicos (37%), calçados (31%) e roupas (30%). Questionados sobre as principais vantagens desta modalidade, a maior parte dos consumidores cita a possibilidade de dividir o pagamento de suas compras em várias vezes (37%), poder parcelar uma compra mesmo sem ter cartão ou cheque (14%) e ter prazo para realizar o pagamento (13%). “Parcelar as compras é um benefício do crediário, mas que deve ser utilizado com cautela. O consumidor deve evitar fazer muitas prestações simultâneas para não perder o controle do seu orçamento”, diz o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.

Preocupação com a menor taxa de juros

O estudo também investigou outras modalidades de crédito utilizadas pelos brasileiros na hora de realizar suas compras. O ranking das modalidades mais utilizadas, excluindo o cartão de crédito -, traz o empréstimo pessoal (37%), o empréstimo consignado (28%), o financiamento (22%) e o cheque pré-datado (9%).

Cinco em cada dez consumidores ouvidos pela pesquisa (54%) garantiram que ao parcelar um produto sempre escolhem a forma de pagamento que cobra a menor taxa de juros. Os consumidores da classe C revelam-se um pouco mais desatentos com a cobrança de juros do que a média geral, uma vez que para esse grupo de entrevistados o percentual cai para 49%. “É importante que os brasileiros demonstrem preocupação com a cobrança de juros, mas muitas vezes o consumidor não sabe fazer a comparação para concluir qual a opção mais vantajosa”, afirma Marcela Kawauti.

O estudo mostra que nem todos os brasileiros se preocupam com o peso dos juros no ato da compra. Dentre os consumidores ouvidos pelo levantamento, 16% argumentam que nem sempre podem escolher a forma de pagamento mais barata e, por isso, acabam adquirindo a modalidade para a qual conseguem aprovação, independentemente da taxa de juros. O percentual aumenta para 21% na Classe C. Há ainda aqueles que analisam apenas se o valor da parcela cabe no bolso, ignorando o valor total desembolsado (13%).

Três em cada dez já usaram crédito consignado

O estudo constatou ainda que é significativo o número de brasileiros que estão endividados com empréstimos. Praticamente quatro em cada dez consumidores residentes nas capitais (37%) disseram estar pagando, atualmente, parcelas de empréstimos pessoais contraídos no passado, sendo que a maior parte foi adquirida junto aos bancos (20%). Outros 28% de consumidores já recorreram ao empréstimo consignado em algum momento de suas vidas e a principal finalidade foi o pagamento de dívidas (48%). “O crédito consignado é uma alternativa a ser considerada em situações de sufoco, como no pagamento do rotativo do cartão de crédito, que cobra um dos juros bastante elevados, ou em situações de emergência. O alerta é que a pessoa que toma esse tipo de crédito precisa aprender a conviver com um salário ou renda menor”, explica Vignoli.

Minoria usa cheque

Outra modalidade também avaliada pela pesquisa foi o financiamento. Dentre os entrevistados, 22% disseram estar pagando algum financiamento nos dias de hoje, com percentuais maiores para os brasileiros das classes A e B (30%). A compra de automóveis (36%), a aquisição da casa própria, como casa ou apartamento (21%) e de motocicletas (16%) são os produtos mais comprados desta maneira.

Tendo caído em desuso com a popularização dos cartões de crédito e de débito, 69% dos entrevistados que possuem conta corrente disseram não possuir talão de cheques.  A segurança e o controle proporcionado pelos cartões são mencionados pela maioria (69%) como a principal justificativa para não utilizarem essa forma de pagamento. Dentre a minoria dos brasileiros que ainda usa cheques pré-datados pelo menos uma vez por ano para fazer compras (9%), as principais aquisições são roupas (17%), acessórios para carro e motos (13%) e móveis (12%).

Metodologia

Foram ouvidas 642 pessoas das 27 capitais brasileiras, com idade igual ou superior a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais. A margem de erro é de 3,8 pontos percentuais e a confiança é de 95%. Os dados foram pós-ponderados para ficarem representativos ao universo estudado.